Vai para mais de dois anos que não escrevo nada de jeito e já sei porquê. Só escrevo em determinadas situações, que impõem alguma paz de espírito, ainda que no meio da turbulência. Exigem que saiba pelo menos de onde vem a turbulência. Exigem uma cabeça um pouco mais descansada do que a minha tem estado. Preciso de descanso.
as botas
calcei hoje as botas. as minhas. pela primeira vez este ano esteve frio suficiente para elas. e, percebi há pouco, reuni a coragem necessária para calçar as minhas botas. tenho outras, que são minhas, que eu escolhi, mas que nunca foram confortáveis o suficiente para serem realmente, as minhas botas. tenho umas outras que me deram e que, apesar de confortáveis, têm as marcas de outros pés que, apesar de bastante familiares, não são os meus. portanto, não são verdadeiramente as minhas botas. há outras, que também me deram, novas. ainda não são minhas e acho que não serão: não as escolhi. serão sempre as botas que x me ofereceu. estas, as que trago agora, são minhas. só os meus pés as pisaram. estão todas escalavradas e não devem aguentar até ao fim do inverno, pensamento que me aflige. a última vez que usei estas botas, a minha vida era t...
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