Há dias que se arrastam, tornam-se semanas. São efectivamente semanas de uma confusão generalizada em que nada parece assentar, em que nada se encaixa, em que peça por peça tudo se desmonta. Dias nublados, cinzentos com nuvens escuras a pairar, um tecto que pode desabar a qualquer momento. E esses dias que são na verdade semanas, ao longe vão ser recordados como dias, porque a duração das semanas se dilui, desfaz-se, é quase nada. E ao recordar as semanas, que foram efectivamente semanas, serão apenas dois ou três dias de memórias, porque tudo é tão confuso com as nuvens pesadas, o céu cinzento, o ar que custa a respirar, o tecto prestes a desabar...
as botas
calcei hoje as botas. as minhas. pela primeira vez este ano esteve frio suficiente para elas. e, percebi há pouco, reuni a coragem necessária para calçar as minhas botas. tenho outras, que são minhas, que eu escolhi, mas que nunca foram confortáveis o suficiente para serem realmente, as minhas botas. tenho umas outras que me deram e que, apesar de confortáveis, têm as marcas de outros pés que, apesar de bastante familiares, não são os meus. portanto, não são verdadeiramente as minhas botas. há outras, que também me deram, novas. ainda não são minhas e acho que não serão: não as escolhi. serão sempre as botas que x me ofereceu. estas, as que trago agora, são minhas. só os meus pés as pisaram. estão todas escalavradas e não devem aguentar até ao fim do inverno, pensamento que me aflige. a última vez que usei estas botas, a minha vida era t...
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