com açúcar com afecto









gosto de noites de verão frias, voltar a sentir arrepios e se for o suficiente para vestir o casaco e calçar as meias, tanto melhor
não gosto de calor, não gosto de me sentir transpirada e quente
não gosto dos rostos transpirados que tenho de beijar no verão, as mãos suadas que me passam coisas...

é possível que seja por isso que também não costumo abraçar pessoas. o calor sufoca-me e não gosto de apertos.
sou ciosa do meu espaço pessoal e não abdico. pode acontecer alguém abraçar-me e eu deixo-me ficar sem saber onde pôr as mãos, como arqueio as costas, aproximo-me mais ou deixo-me estar de rabo espetado a ver se me larga...
mas faço os possíveis para ultrapassar esta dificuldade e depois de conhecer umas dezenas de sul americanos, a coisa do abraço curto como cumprimento já não me assusta - talvez porque não é assim tão emotivo...

tenho ideia que não transmito grande carinho às pessoas. sou meio desajeitada nisso e a solução arranjada é sempre uma aparente "desconexão". mas faço os possíveis para ultrapassar a dificuldade e muitas vezes digo "obrigadas" a mais ou "não era preciso" para compensar a falta de "calor".

nunca fui tão mimada como nos últimos meses.
depois de embrulhadas, stress, mesquinhices e parvoíces, vejo-me novamente de muletas (estas bem reais) e impossibilitada de sequer pousar o pé no chão.

acabei de comer o melhor frango de caril do mundo. picante. quente.
ontem comi uma quiche de legumes divinal e um cuscuz de frango de que dificilmente me irei esquecer.
no dia em que torci o pé trouxeram-me compras, sopa de bebé (desculpa tópê, mas a mãe há-de fazer mais para ti!), camarões e choco, levaram-me ao hospital, conduziram-me a cadeira de rodas e comigo ficaram horas numa sala a cheirar a doentes, trouxeram-me a casa, foram às compras outra vez, levaram o meu carro ao mecânico e à inspecção, vão-me buscar imperiais porque estou na esplanada e não há serviço de mesa...

não sou boa nestas coisas dos calores, sufocam-me. não sou muito boa nos abraços porque nunca arranjo momento para os dar.
mas sinto, juro que sinto, o calor do amor todo recebido nestes últimos meses e agradeço e sinto-me uma sortuda.

amanhã vou comer chili, que me vão trazer a casa. e depois não sei. mas desconfio que ainda sobrou um bocadinho do caril. quente e picante. nada sufocante.

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