do "amor fechou a loja?"


Metade de vocês está dormente, a outra acredita no calor. acredita que o amor é a pedra de toque.
É verdade que quando não sentimos muito, as possibilidades de sermos magoados são menores, a ferida é sempre pequena e superficial, cura depressa, a desvantagem é que o amor também fica pela rama, a raiva é curta e ao de leve.
Nada é grande. Nada é em grande, Nada é furioso o suficiente para que se escrevam livros. Ou poemas. Ou músicas. Ou filmes. Toda a vida é material para filmes de série b.
Se o Shakespeare ou o Tolstoi não fossem seres humanos completos, se não vivessem tudo a sério, senãos e deixassem esmurrar pela vida, não tínhamos Anna Karenina ou Otelo.
Ser sensível, frágil, vulnerável, ter o peito aberto às balas, abrir a camisa e gritar ao mundo: "aqui estou eu façam o melhor que consigam" tem a desvantagem de que quando é mau, é mau mesmo e dá vontade de desaparecer, mas meus amores, quando é bom.... escrevem-se óperas!
A grande merda de não sermos magoados é se não levamos com as pedradas, também não levamos com as melhores coisas da vida. Vivemos tudo morno, nem a escaldar, nem a gelar.
Se há coisa em que eu acredito, meus amoris, é que o mundo tem falta de amor, tem falta de gente de peito aberto, disposto a lutar por si e pelos outros, sensíveis ao mundo, ao vizinho, ao parceiro. Que se preocupe e veja além do seu próprio umbigo. É isso que quero para vocês, e que este tempinho sirva para vos abrir um caminho, acidentado é certo, mas mais aliciante que a estrada alcatroada sem buracos que é a vida que a maioria escolhe.
Não é bom cair nos buracos, mas ser capaz de sair deles (e somos sempre), é das melhores coisas da vida.
Em termos práticos o que quero dizer é, no espectáculo metade de vocês está dormente, não sente, está morno, a outra metade sente e quer fazer a outra metade sentir. Através da doçura, da vulnerabilidade, da fragilidade, do peito aberto.
Assim, quando se diz na parte inicial "sinto-me morto" o que o público deve percepcionar é precisamente essa falta de vida interna, de calor por dentro, de emoções furiosas e vivas.
Ao invés, quando a outra metade entra com os Ornatos Violeta: "o amor é isto" ou "o amor é isto e nada mais" o que devemos percepcionar é na verdade: "olha, aqui o amor existe só tens de abrir, relaxar, abrir o peito às balas, deixar que te magoem, seres vulnerável e frágil. Dizer ao mundo: "aqui estou eu, para o melhor e para o pior".
Quando "sinto o sangue a voltar" ou frases parecidas, que há algumas, é quando o contágio está a ser bem sucedido, ou seja, a doçura começa a trazer resultados.
No fim, porque é de amor que falamos e ninguém gosta que as coisas acabem mal, acabam todos dispostos a abraçar o mundo, com medo, claro, mas é maior o medo de não terem tempo de viver tudo.
E se isto é lamechas? É, mas quem não se deixa emocionar vive o mundo por menos de metade e está quase morto e vai trabalhar nas finanças o resto da vida.


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