passagem para 19
(Enquanto espero que o pc fique operacional para escrever esta mensagem, e ele leva sempre mais tempo do que aquele que a minha pouca paciência aguenta, ligo a televisão e está a dar um filme romântico parvo, com a Rachel dos Amigos e um outro actor que sei que está na moda agora, mas não faz parte do meu tempo de ávida cinéfila de novidades blockbusters e ainda que já o tenha visto nalgumas películas ainda não se provou merecedor do gasto de neurónio para lhe decorar o nome. Mas é jeitoso. E o filme, parvo, já disse?)
É dia de passagem de ano, é suposto estarmos alegres, mas eu
como sempre, encontro-me em estado de melancolia duradoura. pelo menos até ter
atingido a dose certa de tinto que me fará dançar e possivelmente chorar. lá
mais para o fim da noite.
porque é o fim e eu nunca soube lidar com eles. e kalimero
pessimista que sou, claro em vez que ver o início, vejo o fim.
mas é muito bom que as coisas recomecem, que nos nasça esta
vontade de começar de novo, melhor e com a ilusão de que o conhecimento
adquirido nos últimos 12 meses nos garanta que cometeremos menos erros. Mentira.
A única coisa que verdadeiramente muda é a terminação da data,
que nos vai levar 3 ou 4 meses a automatizar e no fim do ano haveremos de perceber
que a pele descaiu mais um nadinha, há pintas novas nas mãos e os papos dos
olhos cresceram.
De resto, é esta ilusão de reinício, de tábua rasa, de
começar tudo outra vez, acreditando sinceramente que será diferente. Porque senão
acreditarmos, o que nos resta?
2018 foi um ano longo. sinto-me aliviada com a
mudança. porque o tempo é suposto curar não é? e a passagem do ano é a passagem
do tempo. e 2018 deixou algumas feridas. fundas.
ano de contrastes, entre o melhor e o pior. Entre a perda
abrupta e estúpida e a felicidade que nos tira o chão e o substitui por nuvens,
e a queda das nuvens abaixo e o levantar.... e tudo que durou tanto, que durou
tão pouco, em 12 meses.
Enquanto miúda sempre achei que em chegando à idade para isso, a pessoa
começava a adultar. automaticamente. já percebi que não. continuo a sentir que não é para mim, porque não me sinto minimamente adulta: o que me confundia na adolescência
continua a confundir-me. continuo sem entender porque é que temos sistematicamente de nos defender. de tudo. da vida, que é
estúpida e acontece de forma completamente aleatória, dos outros que não são
grande coisa, dos mais próximos que às vezes se distraem e é
preciso andar sempre com o escudo em cima. e cansa. porra, se cansa.
Neste ano que agora acaba trabalhei que me desunhei. frustrei-me, senti-me sozinha e cansada e desesperada e a maior parte das vezes
sem grande razão para isso. mas outros momentos houve, muitos, em que me senti mimada,
amada, acarinhada e bem mais do que mereço.
Não sei lidar bem com pessoas, e apesar de gostar delas, de forma bastante genérica, cada vez me sinto mais defensiva. continuam a confundir-me, as pessoas. surpreendem-me. e como objecto de estudo tem a sua graça, mas viver com isso cansa. e por isso
prefiro cada vez mais o recato. o cantinho. a voz baixa, o pouco barulho. Também pode ser pela entrada na 3ª idade e
continuar em negação em relação a isso, mas enfim...
2018, porra! Já acabou! Finalmente! Demorou! 12
intermináveis meses!
Em relação a 2019... caramba... paz de espírito, sossego, tranquilidade, tempo para o que é importante, que o importante seja efectivamente importante –
saber distinguir uma coisa da outra. conseguir isolar-me do caos dos dias, do
caos da vida, não me deixar ir pelo quotidiano e travar a velocidade das
coisas, que depressa e bem não há quem e eu não sou especial. Tornar-me um
nadinha mais adulta, é preciso adultar, tenho noção disso. adultar mais um
nadinha, o necessário a que vida prossiga, evolua e eu não me trave.
Que os amigos que encontrei este ano, que descobri este ano,
dos que me aproximei mais e mesmo os que continuam longe (à distância de um
telefone), os que foram efectivamente meus amigos minha família meus, continuem
meus amigos minha família meus. Que os saiba estimar, que não os tome por
garantidos, que os mime, que continuem a ser as minhas pessoas, enquanto o
quiserem ser, eu tentarei merecer a honra de os ter e de ser deles.
que se ser adulta é alguma coisa, é perceber que o amor não é garantido, que a amizade custa a nascer, que a confiança se conquista dedo a dedo, que nem todos merecem, mas quando acertamos no alvo, caramba! ganhamos o mundo!
e que a empatia se torne palpável, exista, que a gente a sinta diariamente na pele. que o amor possa vencer. e se pedir que vença sempre for muito, então que vença de quando em quando. o suficiente para nos ir restaurando a esperança no futuro.
saúdinha da boa que é essencial. tempo para apreciar a viagem, que afinal é disso que se trata: uma longa (espero eu!) viagem, porque do destino pouco ou nada sabemos e ao (ou se) chegarmos lá, deduzo que não haja assim tanto tempo para desfrutar. deduzo então que o melhor é aproveitar a caminhada, e ainda que por vezes, nos pareça acidentada demais, é fazer disto uma aventura e daqui a 12 meses cá estaremos para balanços....
...senão o que nos resta?
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