minorias e privilégios
e se eu fosse negra? seria a mesma? respondona?
só me apercebi que ser mulher não é realmente igual a ser homem bastante tarde (nos trintas)
o choque foi grande. acho que ainda estou a recuperar
quanto tempo demoraria a aperceber-me que nascer negro é uma desvantagem
sou uma privilegiada
não sei se tenho ainda perfeita noção do quão privilegiada sou.
apesar de mulher
nasci na europa, sou branca, heterossexual (até ver) e de classe média (ou assim cresci, neste momento não sei se qualifico para tal).
pude estudar e estudei o que quis, contei sempre com o apoio dos meus pais (e conto)
relativa facilidade em ter amigos, em entender coisas (algumas, outras ainda são profundamente misteriosas para mim)
tive uma amiga que teve uma infância francamente infeliz e uns pais altamente incompetentes (foi para não dizer de merda).
muitas vezes pensava (e penso), e se fosse eu? que raio de vida teria eu?
ninguém tem culpa ou responsabilidade de ser privilegiado, é uma questão de sorte
ser privilegiado e inconsciente desse privilégio já um problema que devemos tentar resolver
eu tenho tentado
ter cuidado com a linguagem: não usar aquelas piadas fáceis que perpetuam o racismo, a homofobia ou o machismo, por exemplo
e não é fácil
exige um policiamento auto-imposto permanente
não dizer: "porra que trabalhei como um preto hoje" ou "deves estar com o período não?" ou "porra pá, isso não é de homem!"
mas será suficiente?
auto-análise no momento em que olhas para um romeno e o teu cérebro de imediato "ai caraças!"
auto-análise no momento em que vês uma negra toda esmurrada e que acusa um agente da PSP pelo estrago e quando lês versão da PSP o teu cérebro de imediato "eh pá, a gaja se calhar portou-se mal"
auto-análise no momento em que vês um rapaz de saia e o teu cérebro de imediato "ai cum caraças..."
auto-análise no momento em que sabes que aquela rapariga que toda a gente que leva porrada do marido voltou para casa e o teu cérebro de imediato "oh porra! está a pedi-las"
espírito crítico quando as notícias dizem que rapariga embriagada acusa colegas de abuso sexual
espírito crítico quando te contam que nas lojas dos chineses roubam rins às pessoas
espírito crítico quando a morte de um jovem branco parece mais grave que a morte de um negro.
auto-análise e policiamento permanente.
um video no facebook mostrava o encontro entre uma drag queen e crianças do 1º ciclo. Alguns, a maior parte na verdade, mostravam estranheza ao primeiro contacto. um homem maquilhado, com um casaco de lantejoulas e salto alto. no fim, todos eles diziam coisas como "mas tu tens coragem de ser quem tu és" ou "acho que todos deviam ser como quiserem"
o preconceito não nasce connosco
vamos sendo contagiados
e quanto a isso há muito pouco ou nada que possamos fazer
podemos sim, encontrar o antibiótico adequado ao contágio que sofremos
garantir que não contagiamos ninguém com os nossos preconceitos
não resolveremos o problema nesta geração, nem na próxima, nem na outra a seguir
mas havemos de fazer uma micro-diferença, não?
e um dia, deixaremos de ouvir "e o que é que ela levava vestido?", "estava a pedi-las", "elas gostam", "o paneleiro", "esta gente", "ciganada", "fufa do caraças". "faz-te homem", "pretalhada" e outros que tais
a culpa é nossa. de todos nós, privilegiados sem noção, que deixamos que estas coisas aconteçam
só me apercebi que ser mulher não é realmente igual a ser homem bastante tarde (nos trintas)
o choque foi grande. acho que ainda estou a recuperar
quanto tempo demoraria a aperceber-me que nascer negro é uma desvantagem
sou uma privilegiada
não sei se tenho ainda perfeita noção do quão privilegiada sou.
apesar de mulher
nasci na europa, sou branca, heterossexual (até ver) e de classe média (ou assim cresci, neste momento não sei se qualifico para tal).
pude estudar e estudei o que quis, contei sempre com o apoio dos meus pais (e conto)
relativa facilidade em ter amigos, em entender coisas (algumas, outras ainda são profundamente misteriosas para mim)
tive uma amiga que teve uma infância francamente infeliz e uns pais altamente incompetentes (foi para não dizer de merda).
muitas vezes pensava (e penso), e se fosse eu? que raio de vida teria eu?
ninguém tem culpa ou responsabilidade de ser privilegiado, é uma questão de sorte
ser privilegiado e inconsciente desse privilégio já um problema que devemos tentar resolver
eu tenho tentado
ter cuidado com a linguagem: não usar aquelas piadas fáceis que perpetuam o racismo, a homofobia ou o machismo, por exemplo
e não é fácil
exige um policiamento auto-imposto permanente
não dizer: "porra que trabalhei como um preto hoje" ou "deves estar com o período não?" ou "porra pá, isso não é de homem!"
mas será suficiente?
auto-análise no momento em que olhas para um romeno e o teu cérebro de imediato "ai caraças!"
auto-análise no momento em que vês uma negra toda esmurrada e que acusa um agente da PSP pelo estrago e quando lês versão da PSP o teu cérebro de imediato "eh pá, a gaja se calhar portou-se mal"
auto-análise no momento em que vês um rapaz de saia e o teu cérebro de imediato "ai cum caraças..."
auto-análise no momento em que sabes que aquela rapariga que toda a gente que leva porrada do marido voltou para casa e o teu cérebro de imediato "oh porra! está a pedi-las"
espírito crítico quando as notícias dizem que rapariga embriagada acusa colegas de abuso sexual
espírito crítico quando te contam que nas lojas dos chineses roubam rins às pessoas
espírito crítico quando a morte de um jovem branco parece mais grave que a morte de um negro.
auto-análise e policiamento permanente.
um video no facebook mostrava o encontro entre uma drag queen e crianças do 1º ciclo. Alguns, a maior parte na verdade, mostravam estranheza ao primeiro contacto. um homem maquilhado, com um casaco de lantejoulas e salto alto. no fim, todos eles diziam coisas como "mas tu tens coragem de ser quem tu és" ou "acho que todos deviam ser como quiserem"
o preconceito não nasce connosco
vamos sendo contagiados
e quanto a isso há muito pouco ou nada que possamos fazer
podemos sim, encontrar o antibiótico adequado ao contágio que sofremos
garantir que não contagiamos ninguém com os nossos preconceitos
não resolveremos o problema nesta geração, nem na próxima, nem na outra a seguir
mas havemos de fazer uma micro-diferença, não?
e um dia, deixaremos de ouvir "e o que é que ela levava vestido?", "estava a pedi-las", "elas gostam", "o paneleiro", "esta gente", "ciganada", "fufa do caraças". "faz-te homem", "pretalhada" e outros que tais
a culpa é nossa. de todos nós, privilegiados sem noção, que deixamos que estas coisas aconteçam
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